12/03/2024
A recente regulamentação pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre o uso de Inteligência Artificial (IA) nas eleições brasileiras, especialmente no que tange à propaganda, chatbots e avatares, destaca um passo importante no reconhecimento das tecnologias emergentes no cenário eleitoral. No entanto, essa medida toca apenas a superfície do vasto oceano de possibilidades que a IA oferece às campanhas eleitorais.
O Art. 9º-B da Res. 23.610/2019 do TSE destaca a necessidade de informar explicitamente sobre o uso de tecnologias de IA que alteram conteúdos multimídia. Enquanto essa regulamentação enfatiza a integridade do processo eleitoral ao prevenir informações enganosas, ela apenas inicia a conversa sobre o vasto potencial da IA nas campanhas eleitorais.
Esse enfoque regulatório na propaganda sublinha uma questão crítica: as equipes de campanha estão realmente prontas para explorar todas as capacidades da IA?
A realidade é que, ao focar majoritariamente na propaganda, subestimamos o potencial transformador da IA em diversos outros aspectos de uma campanha eleitoral. Além da propaganda, a IA tem o poder de remodelar completamente as campanhas, tornando-as mais eficientes, estratégicas e conectadas. Sua aplicação vai desde a otimização de processos internos, como gestão administrativa e logística, até a personalização da comunicação com eleitores, análise preditiva para tomada de decisões e otimização de recursos. Além disso, a IA pode desempenhar um papel crucial na gestão de voluntários e na análise de sentimentos nas redes sociais, proporcionando uma compreensão mais profunda e imediata das reações do eleitorado.
Entretanto, para que as campanhas possam navegar por essas águas profundas, é indispensável a presença de profissionais capacitados e atualizados na área da IA. A tecnologia, por mais avançada que seja, precisa ser dirigida por mãos habilidosas que compreendam tanto suas capacidades quanto suas implicações éticas. Assim, as campanhas eleitorais devem ir além da simples adoção de ferramentas de IA; elas precisam cultivar e investir em talentos que possam explorar o potencial completo da tecnologia de maneira responsável e inovadora.
O desafio, portanto, não reside apenas em se adaptar às normas regulatórias, mas em reconhecer a IA como uma aliada estratégica que pode contribuir para uma campanha mais dinâmica e interativa. Isso implica um compromisso com a formação contínua e a busca por especialistas que possam implementar essas soluções tecnológicas de forma ética e eficaz, garantindo que o uso da IA esteja alinhado com os valores democráticos e o respeito à privacidade dos dados.
A regulamentação do TSE é um passo importante, mas é apenas o começo da jornada. As campanhas que desejam realmente se destacar no cenário eleitoral devem olhar para além das limitações da propaganda e reconhecer a IA como uma força transformadora em todas as facetas da campanha. Isso requer não apenas uma mudança de perspectiva, mas também um investimento significativo no capital humano capaz de levar essa visão adiante.
Portanto, enquanto navegamos por esse novo território, o foco não deve estar apenas em conformidade com as regulamentações de cunho propagandístico, mas em como podemos expandir nossos horizontes e explorar as capacidades inovadoras da IA. Investir em profissionais qualificados e manter-se atualizado com as últimas tendências em IA se torna não apenas uma estratégia para melhorar a eficácia das campanhas, mas também uma necessidade fundamental para cultivar um ambiente eleitoral mais engajado, transparente e democrático.
Dito isto, lança-se o desafio: as campanhas eleitorais estão prontas para explorar as capacidades inovadoras da IA? Será que as eleições de 2024 serão marcadas pela divisão de águas, onde a tecnologia é utilizada de forma responsável e criativa para enriquecer o processo democrático?
Fonte:
Res. 23.610/2019 do Tribunal Superior Eleitoral
Res. 23.607/2019 do Tribunal Superior Eleitoral